quarta-feira, 28 de abril de 2010

Mais um desenho recém-descoberto


 
Sem título, 2001*

Parece estranho que eu tenha me esquecido completamente da existência dos desenhos como este, não só o fato de estarem guardados num arquivo-morto, eu os esqueci.
Às vezes sinto falta de um ou outro desenho meu, uma espécie de saudade. Posso visualizá-los sem fechar os olhos. Como agora, vejo um desenho feito com a mina na cor avermelhada do desenho acima. É bem diferente o uso que fiz do mesmo material. Qualquer hora ele vem parar numa postagem e falo mais.
Acabo de me perguntar qual será o critério da memória para explicar esse quase fenômeno de esquecimento. São de 2001, não é tanto tempo assim.
Já tive urgência em localizar um desenho por causa de outro. Havia um detalhe muito peculiar que eu precisava ver. Não para fazer igual, mas tinha de ver. Vi e só assim sosseguei e fui fazer o outro.
Pretendo não me esquecer mais de meus desenhos desse jeito. Vou mexer em pastas, cadernos de esboços mais antigos, ver onde guardei cada um, se estão bem. 


________
* O desenho apresentado aqui foi redescoberto recentemente entre outros e ainda estão todos sem títulos. Ver também a postagem anterior onde explico que redescoberta é essa.

domingo, 25 de abril de 2010

Artes em Sampa



Casa do Artista, Loja Jardins

Minha cabeça ainda não voltou de São Paulo, onde estive na segunda-feira passada. 
Casa do Artista, uma loja de materiais de arte que fica lá. Fui, num dia de sol, com uma leve brisa pela manhã. Dobrar a esquina e me deparar com a loja foi um impacto.
Aquele mundo de materiais à disposição. Um sonho real para qualquer artista que queira fazer arte com material de alta qualidade. 
Tintas da Winsor&Newton, como os meus favoritos bastões de óleo


E os papéis? 
Muito Fabriano 5, em várias gramaturas, um luxo! 
Horas, teria de ficar horas olhando cada coisa, verificando preços. Eu não conseguia pensar direito o que seria mais interessante comprar. Vim para casa apenas com uma bastão de óleo, o incolor, que eu tinha mais certeza de usar logo. 
A cabeça cheia de ideias, uma porção de folders sobre produtos.
É, mas não parei por aí. 
Livraria Cultura em Sampa é divina. A da avenida Paulista no Conjunto Nacional é um complexo de várias lojas, uma para cada área, fiquei um tempo na Loja Artes. Evidentemente livros e mais livros sobre artistas, questões teóricas etc. Arte.
Gravuras digitais estavam à venda lá. Eu olhei algumas bem de perto, queria ver a textura do papel onde foram impressas e como a tinta se assentava nele. Odiei o acabamento das ditas gravuras, um passe-partout de 4 cm, que leva quem compra a não ter a opção de enquadrar do jeito que quiser, pois está colado. Gosto de passe-partouts largos mesmo quando o desenho é feito num papel menor. 

Na vitrine uma exposição, que foi o que me motivou mais ainda a entrar na loja.
Nanquim, desenhos a bico de pena. Logo que entrei, vi um banner com informações sobre a artista Sonia von Brüsky, o curador, datas de abertura e de encerramento. Não perguntei nada, mas pensei na possibilidade de um dia expor meus desenhos naquela vitrine. Tem de se informar, não é?
A seguir fui à loja do IMS, Instituto Moreira Sales. (Lembrando que ainda é na Livraria Cultura.) Muito atraente, as portas de vidro são automáticas... Aliás, não se vê lá dentro, fui abduzida quando alguém saía da loja e vislumbrei o que havia dentro. 
Fotografia. 
Espaço dedicado à fotografia. Livros com fotos de obras de artistas plásticos, escultores (como Bez Batti, maravilhoso, que vi já estando de saída!), fotógrafos incríveis.
Patrick Bogner é um deles, vi Interiores, o catálogo de exposição del, pelo qual fiquei apaixonada desde a capa



Eu nasci na cidade de São Paulo, sei que lá há toda sorte de problemas das grandes metrópoles. Não preciso citar, estão o tempo inteiro nas tevês e jornais e diante de nossos olhos, se se vive ou vai até ela. 
As artes estão presentes naquela minha cidade. Fiquei um pouco lendo jornal na mesa de um café. Ali estava na sombra e havia uma brisa. Não me lembrava do cinza, da chuva, das enchentes é melhor dizer, do frio, do céu sem cor, era a minha São Paulo. É minha também quando está daquele jeito, virada, mas é amor com tristeza.
Depois lia entre um gole e outro de café para espantar a sensação do estresse com os atrasos dos ônibus, que foi cessando ao pisar a plataforma do metrô, de onde poucos minutos rumaria ao Paraíso e em seguida à Consolação.
Raramente ouso dizer que estou em paz, é uma agitação interna quase o tempo todo, mas ali estava pacificada. Fiquei naquela mesa, aguardando a chegada do amigo, que contaria novidades, enquanto descíamos a ladeira para me surpreender com a loja, de que falei no início, e com a Cultura e a cultura.
Uma palavra que de tão desgastada não costumo usar é felicidade. Só que gosto de  pensar que a situação que descrevi pode ter sido feliz no sentido exato da palavra. E, cá entre nós, ainda é.

domingo, 18 de abril de 2010

A arte de compartilhar a arte_vida e obra



Volto a falar sobre Árpád Szenes e Viera da Silva.
Na postagem em que comecei a falar sobre eles, havia dado tanto destaque à vida e ao relacionamento dos dois artistas que acabei por não apresentar obras de cada um deles, há só um quadro de Szenes. Eles não eram apenas marido e mulher, eram artistas, pintores, gravadores...

O quarto cinzento, Vieira da Silva, 1950

Aqui se pode ver o que mais me encanta na obra de Vieira da Silva.  A profusão de elementos dispostos no espaço. Outro recurso usado é o de manter a linha como estrutura aparente. E essa atenção que ponho sobre esse fato é inegavelmente porque a linha aparente no desenho adquiriu uma importância para mim mesma, como artista. Não estou insinuando algum tipo de influência da obra da artista em meu desenho, não tenho dúvida de que, no meu caso, a linha aparente surgiu de uma prática em que não me demorei a me dar conta do papel que essa linha foi assumindo no que fazia e, acredito, não de um contato anterior com obras de Helena vistas pessoalmente em uma exposição em São Paulo nos anos 1990 e posteriormente em livro.
Vieira da Silva também fez retratos de Szenes, que fez inúmeros dela.


                                          Retrato do Arpad, 1931, óleo s/tela

A gente se acostuma a ver os quadros de caráter abstrato de Vieira porque são os mais divulgados, mas fazia figurativo também. Gosto particularmente dos retratos, eles têm uma carga emocional imensa, isso é mais do que representar a aparência do retratado, fosse Árpád ou ela mesma.


 Arpad, 1942, guache s/cartão 

Auto-retrato*

Encontrei uma reprodução de um quadro de Vieira de 1944, que foi feito durante o período em que moraram no Brasil, chama-se História trágico-marítima ou O naufrágio, um óleo sobre tela e os traços feitos com mina de chumbo. Aqui aponto novamente a profusão de elementos, entre os quais se veem figuras humanas, caracterizando bem a situação de desespero de um naufrágio.


As cores usadas nessa pintura têm o poder de dar a dimensão da tragédia no mar, o que se passa se concentra ali naquela onda que lambe o barco e atira seus ocupantes nas águas em movimento de redemoinhos. Ele foi pintado em menção ao estado de guerra por que passava a Europa na época. 
Li, no blog de Luisa Lopes, mulheresesjs, que no Brasil Vieira da Silva se voltou à pintura figurativa, deixando um pouco de lado a abstração.
Ao que parece Luisa está correta, basta verificarmos a data deste outro quadro, eles permaneceram aqui de 1940 a 1947.

O desastre ou A guerra, 1942, ost


O que li num texto sobre a mostra Vieira da Silva no Brasil, de 2007, com curadoria de Nelson Aguilar, que também organizou o catálogo de mesmo nome, o que a teria levado a interromper seu caminho pela abstração: "'Aqui no Brasil ela usou o álibi do figurativo, senão ia ficar falando sozinha', diz Nelson Aguilar". A motivação de um artista nem sempre é espontânea, de acordo com seu desejo mais pessoal.
Não consigo me recordar da data exata em que vi um desenho ou gravura dela pessoalmente, mas a galeria é bem provável tenha sido a de Arte do Sesi, em São Paulo. Era algo parecido com este

Abstracção

Árpád Szenes, sua pintura não teve o destaque da de Vieira. Outro dia encontrei um blog em que estava sendo anunciada uma exposição com obras dele na Fundação Arpad Szenes e Vieira da Silva, em Lisboa, e o relato do autor do blog Infinito Pessoal sobre a exposição ser um tributo a ele, um resgaste do valor do artista. O post de 2007 tem como título "Arpad, ou por detrás de uma grande mulher...".
Szenes pintou Vieira da Silva,



mas também desenhou a poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner


e a poeta brasileira Cecília Mirelles,


entre outros retratos.
Gosto de uma pequena biografia de Szenes que aparece no site do CAMJAP. Nela finalmente se tem uma apresentação de sua obra mais consistente, além dos dados propriamente biográficos. Desenhista, pintor... professor. Deu aulas no Rio de Janeiro. Quando Vieira da Silva retornou à Europa, Szenes só vijou depois de terminado o curso. 
Fizeram amigos no Brasil, a  retratada Cecília Meirelles, o artista gaúcho Carlos Scliar com quem aparecem nesta foto


Em 1943

Vale a pena ler o que Vieira da Silva escreveu a Scliar sobre a arte dele, é puro reconhecimento e incentivo, algo que considero uma rara oportunidade de ver: um artista encantado com a obra do outro, um outro mais jovem. Li em algum site que era um casal dado a incentivar artistas.

De Árpád Szenes, uma paisagem (?)


Leio em um site que Szenes e Vieira da Silva obtiveram cidadania francesa em 1956 e que ele teria sido reconhecido com exposições também no exterior e mesmo com condecorações do Estado francês. Isso é muito bom, tenho tristeza quando um artista que o mereça não seja reconhecido em vida. Aqui pareço dar uma informação contraditória, Szenes foi reconhecido, mas o fato é que a arte de Vieira da Silva foi muito mais divulgada que a dele, mesmo agora ainda é o que acontece.

De Vieira da Silva, livros e luz


L'issue lumineuse, Vieira da Silva

Ainda Árpád, mais uma vez Maria Helena em retrato


Poderia escrever muito sobre eles mas creio que já me alonguei por demais aqui. 
Eis os artistas Vieira da Silva e Szenes, eis o casal Árpád** e Maria Helena


                          

_________
* Para variar, as cores das reproduções são infiéis e não consigo dar conta de encontrar a mais próxima. No catálogo Vieira da Silva  no Brasil, de Nelson Aguilar, encontrei foto desse autorretrato em tons de azul. Sabe-se lá qual a verdade! Não tenho intuição para tanto.

** Quanto à grafia do nome do artista, ora vejo com acentos, ora sem. Já vi o sobrenome acentuado também.  Em Portugal não acentuam. Gosto de manter a grafia original do nome da pessoa. Ainda vou saber como se escreve o nome dele. Creio que com acentos.



segunda-feira, 12 de abril de 2010

Arquivo-morto


Sem título, 2001

Havia dias eu, mexendo em minha estante, resolvi tirar dali o arquivo morto para liberar o espaço para livros e revistas que andavam circulando pelo quarto.
Que surpresa encontrar desenhos que não via fazia muito tempo, a ponto de me esquecer de sua existência. Aliás, levei mais tempo ainda para ver porque dias se passaram sem que fosse abrir o tal arquivo.
São de 2001, entre eles está esse. Foi o primeiro que revi e me causou uma alegria tão gostosa, de fato uma surpresa agradável. Deu até para eu ficar dizendo "Fui eu que fiz", como se não soubesse ou não acreditasse.
Apareceram num momento importante porque no ano passado recomecei a usar as minas de tons terrosos para alguns detalhes em desenhos, então ver como fiz uso deles em desenhos mais antigos é bem adequado. Permitem que se façam texturas bonitas, arrisco dizer que se assemelham às que se conseguem em litografia. 
Sou muito ligada às cores das terras, os marrons, tanto o sépia quanto as terras naturais ou queimadas, também os ocres. Vou mudando os materiais mas essas cores me acompanham mesmo quando me encanto com outras. De vez em quando me dá uma vontade de azul ou vermelho, ou invento um verde ou mais, no entanto as terrosas nem penso em não usar, são parte essencial de minha paleta.
Alguns chamam de grafite, outros de minas, são da Koh-I-Noor. Adoro
          

Fico tentando lembrar em que circunstâncias esses desenhos foram feitos por mim. Por enquanto não sei dizer, posso ter visto as minas na loja e trazido para experimentar... O papel não é tão bom quanto os que costumo usar, trata-se de um papel de desenho creme da Canson, de baixa gramatura. Uma coisa tenho de admitir: a textura fina desse papel foi vital para os efeitos que obtive. Grana fina, sempre procuro papel assim para conseguir efeitos mais leves porém marcantes no desenho. 

Recorte de desenho

Este é um recorte de outro desenho reencontrado, igualmente sem título, para você ver do que estou falando. Olha só como são bonitas as linhas! Eu acho.
Ainda tenho de fazer uns ajustes na reprodução desse desenho antes de colocar aqui, porque, ao escanear, as imagens ficaram muito escuras. Só ontem comecei a me entender com o editor de imagens e consegui um bom resultado com o primeiro desenho visto. Um dia ainda falo sobre a saga da fidelidade de cores ao original com mais calma, mas não estou buscando um grau muito alto disso para esses desenhos no momento.
Veja o que acontece quando mudo o matiz e/ou a saturação do vermelho e do magenta (?), que compõem o marrom avermelhado do desenho:

                                              


São muitas as possibilidades e é preciso aprender a lidar com o editor. Eu me encanto, a tecnologia transforma, basta saber como fazer, onde clicar ou não. Para que alterá-los?, essa também é uma boa questão, eu sempre a faço para evitar mexer onde não é preciso. A tentação é grande com esses programas de editar imagens, procuro entender o limite que elas muitas vezes me ditam.
Dá para ver bem o resultado da edição e que tenho muito a aprender. Não tinha notado que as cores do desenho até ficaram boas, mas o cor do fundo já não me agrada tanto, cadê meu fundo creme?

sábado, 3 de abril de 2010

A arte de compartilhar a arte_Correções

Andei fazendo alterações na postagem anterior.
Primeiro alterei informações porque, ao consultar o livro Vieira da Silva (Taschen), descobri que a foto supostamente tirada do casal Arpad Szenes e Maria Helena Vieira No Brasil era, sim, deles no boulevard Saint-Jacques em Paris. Seria casa ou atelier?
Na quinta-feira passada (1º de abril), eu, na Livraria Cultura, me vi diante de um livro, o Vieira da Silva no Brasil,


na verdade, é o catálogo da mostra realizada em 2007 no MAM de São Paulo, organizado por seu curador, Nelson Aguilar. 
Não pensei duas vezes e me pus a folhear. 
Uma das tantas fotos que vi foi exatamente aquela que não é No Brasil, apresentada como sendo no atelier do  boulevard Saint-Jacques. Nova alteração na postagem.
Mas, hoje... há uma foto de Vieira da Silva e diz-se que era uma casa-atelier e nem vou me arriscar a alterar de novo a postagem porque isso parece não ter fim. E anteontem cheguei a pensar, para meu desespero, que tinha perdido a postagem inteira por causa de problemas técnicos para fazer as alterações, não havia meio de salvar.
Além disso, olhando, temos uma única certeza, são eles na foto. 

 
Agora falta pouco para terminar a série de postagens "A arte de compartilhar a arte". 
Vou procurar publicar sem idas e vindas, quero dizer sem alterações depois de publicada. 
Uma coisa que aprendi é que é bom deixar marcas das alterações (em azul) porque parece que quem segue um blog fica recebendo a postagem novamente a cada alteração e não deve entender nada, fica sem saber por que uma postagem antiga volta a ser publicada. E entende ainda menos se acontecer com a frequência com que eu alterei a minha.
Outra coisa aprendida é que não se pode prever que o envolvimento com um assunto vá crescer tanto que perdemos o controle e a postagem comece a ficar com metros de comprimento. 
Vou ter de alterar o que se pode chamar de "projeto inicial" e fazer cortes. Por exemplo, não vou mais falar de outros artistas como previsto, pois este casal que ora me ocupa não deixou espaço para mais. Ia falar também um pouco sobre mais casais de artistas, com o casal Leda Catunda e Sérgio Romagnolo e o casal Josef e Anni Albers
Este último casal tem um quê especial para mim, porque Anni era artista têxtil, designer de tecidos, e me identifico por já ter exercido a tecelagem manual, sem falar na beleza do que ela fazia, que naturalmente é o que garante a identificação. 
Ali está Josef ao lado de Anni diante de seu tear


Josef e Anni Albers em sua sala de trabalho, ca. 1995